“A vergonha de uma acusação – todos somos arguidos !”, Nota à Imprensa

Dois membros do Movimento Cívico “Não Apaguem a Memória!”, João Almeida e Duran Clemente, foram recentemente acusados pelo Ministério Público da prática de um crime de “manifestação ilegal”. Isto por, no passado dia 5 de Outubro, se terem deslocado, juntamente com várias dezenas de outros cidadãos, às instalações da antiga Sede da PIDE/DGS e aí exteriorizado o seu repúdio pelo facto de tais instalações estarem a ser transformadas num condomínio de luxo sem que qualquer preservação da memória daquele espaço tivesse então sido acautelado.

O Movimento Cívico “Não Apaguem a Memória !” expressou e expressa publicamente a sua profunda indignação por tal acusação, não apenas por a mesma não ter qualquer vislumbre de fundamento (já que não se realizou qualquer “manifestação”, mas antes um grupo de cidadãos, ao abrigo da sua elementar liberdade de deslocação, decidiu espontaneamente dirigir-se a um local tão dramaticamente emblemático como é o da Sede da PIDE e aí exercer a sua liberdade de expressão) como por se revelar profunda e estranhamente discriminatória, uma vez que todos os cidadãos presentes no local fizeram exactamente o mesmo e todavia apenas aqueles dois foram acusados.

Razão aliás por que todos os activistas e simpatizantes do Movimento expressam a sua mais viva solidariedade para com aqueles dois membros e manifestaram já, de forma inequívoca, a sua posição de que “então, todos somos arguidos !”.

O Movimento “Não Apaguem a Memória !” salienta, por fim, que foi precisamente esse exercício democrático do direito à indignação no passado dia 5 de Outubro que representou o “pontapé de saída” para a ampla corrente cívica que já conseguiu entretanto obter da Câmara Municipal de Lisboa e do próprio Promotor Imobiliário um acordo de princípio para a cedência de uma área no prédio da Rua António Maria Cardoso para a instalação naquele local de um espaço de memória, bem como garantiu a colocação de uma placa alusiva na Sala do Plenário da Boa Hora, e levou a cabo, no passado dia 1 de Julho, uma deslocação de dezenas e dezenas de ex-presos políticos à Prisão do Aljube reivindicando do Ministério da Justiça a transformação da mesma num espaço museológico sobre a Resistência contra o Fascismo e a Luta pela Liberdade.

Lisboa, 20 de Julho de 2006