Carta Aberta à população

Durante quase cinquenta anos o povo português sofreu a repressão impiedosa do regime do Estado Novo, conduzida pela PIDE: prisões arbitrárias, longos períodos de isolamento que podiam chegar a seis meses, torturas durante os interrogatórios, julgamentos fantoches, encarceramentos nas condições mais degradantes e humilhantes da dignidade humana.

A sede da PIDE na Rua António Maria Cardoso, a cadeia do Aljube, os Fortes de Caxias, de Peniche, e Angra do Heroísmo, os campos de concentração de S. Nicolau e do Tarrafal, o presídio militar da Trafaria, a Companhia Disciplinar de Penamacor, entre outros, constituíam um verdadeiro Roteiro do Terror por onde passaram milhares de resistentes que deram o melhor das suas vidas, nalguns casos mesmo a própria vida, para que a democracia fosse possível em Portugal.

A memória desta luta não se pode apagar se queremos preservar a nossa identidade de povo livre e digno.

O Movimento Cívico Não Apaguem a Memória! reclama aos poderes públicos, em especial à Assembleia da República, lugar de representação do Estado democrático, a celebração cívica dos centros de repressão do regime fascista, como locais de memória da resistência. Considera que é um acto de justiça necessário e urgente para reparar a dignidade ferida das mulheres e dos homens que lutaram e sofreram a humilhação dos torcionários.

Para dar expressão social a esta exigência cívica, o Movimento Cívico Não Apaguem a Memória! apela à mobilização cidadã.

Com os presos políticos, torturados na sede da PIDE e humilhados nos cárceres do Estado Novo;

Com os resistentes antifascistas que perderam a vida às mãos dos torcionários do regime ditatorial;

Pela dignidade que merece o povo português;

Não consentiremos no branqueamento do fascismo nem esquecemos a luta dos resistentes!

O Movimento Não Apaguem a Memória! convoca as cidadãs e os cidadãos do país para que se associem a esta luta pela preservação da memória da resistência. Convida-os a que se unam aos antigos presos políticos do Aljube, que no dia 1º de Julho, às 10.30 horas, se reunirão no Largo da Sé para daí seguirem em direcção ao Aljube. Para que a antiga prisão se transforme num espaço museológico, onde se celebre a resistência e a liberdade conquistada.

Em nome do futuro, não apaguem a memória!