Notas Biográficas dos Investigadores e Docentes alvo de Depuração Política das Universidades Portuguesas pelo Estado Novo

Da Brochura que faz parte da homenagem aos professores universitários demitidos pelo Estado Novo

E que tem o título:
A DEPURAÇÃO POLÍTICA DO CORPO DOCENTE DAS
UNIVERSIDADES PORTUGUESAS
DURANTE O ESTADO NOVO
(1933-1974)

Capitulo III

Notas Biográficas dos Investigadores e Docentes alvo de Depuração Política das Universidades Portuguesas pelo Estado Novo

1934

 

António Barros Machado (1912-2002)

Licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade do Porto foi nomeado, em 1934, assistente extraordinário de Zoologia. Nesse ano é-lhe rescindido o contrato, juntamente com outros assistentes da Faculdade de Ciências (ver Cap. II), por terem subscrito um documento de critica às condições do ensino. Vai trabalhar, então, para o Museo Nacional de Ciencias Naturalles, em Madrid. A Guerra Civil interrompe-lhe o curso de doutoramento na Universidad de Madrid, regressando ao Porto em 1936. Estagia depois no Museum d’ Histoire Naturelle de Paris. Antigo assistente e admirador de Ruy Luís Gomes, neto de Bernardino Machado, apoiante da resistência democrática ao regime, nunca voltará a ser admitido nas Universidades portuguesas devido à informação negativa da policia política, não obstante o seu curriculum e altas classificações. Opta pelo ensino secundário particular e depois parte para Angola, onde dirige o Laboratório de Investigação Biológica do Dundo até 1973. Em 1978, já com a Democracia, torna-se presidente da Sociedade Portuguesa de Etnologia e, em 1990, recebe o doutoramento Honoris Causa pelo Instituto Biomédico Abel Salazar da Universidade do Porto, à qual ficou ligado como professor catedrático Jubilado.

Henrique Vítor Ziller Pérez

É nomeado assistente extraordinário de Zoologia e Antropologia da Secção de Ciências Histórico-Naturais da Faculdade de Ciências do Porto em 1932. Vê ser-lhe rescindido o contrato em 1934 pelas mesmas razões de ordem política que levaram ao afastamento de dois outros assistentes da FCUP nesse ano ( ver cap. II). Terá falecido pouco depois.

Luís Neves Real (1910-1935)

Activista do movimento estudantil contra a Ditadura no inicio dos anos 30 na Universidade do Porto, é desse período que vem o conhecimento com o jovem 1º assistente da Faculdade de Ciências, Ruy Luís Gomes, de quem será amigo, colaborador cientifico e companheiro de lutas políticas durante décadas. Licenciado pela FCUP em Ciências Matemáticas com elevadas classificações em 1932 (e em engenharia electrotécnica em 1937), é-lhe rescindido o contrato por razões políticas dois anos depois, o que não o impede de, com Ruy Luís Gomes, ser um dos grandes impulsionadores do Movimento Matemático desde meados dos anos 30 até 1948 (ver nota 13 do Cap. I do presente trabalho), animando o Centro de Estudos Matemáticos do Porto, a Sociedade Portuguesa de Matemática e o Seminário de Matemática ( que chegou a funcionar em sua casa, quando o cerco do regime se começou a apertar). Volta a ser contratado como assistente da FCUP em 1942, mas a degradação das condições de trabalho e da liberdade académica levam-no a rescindir o contrato em 1945, dedicando-se então de corpo e alma ao Centro de Estudos Matemáticos do Porto que só abandona quando o seu mentor, Ruy Luís Gomes, é demitido.

 

 

1935

 

Abel Salazar (1889-1946)

Licenciou-se pela Escola Médico-Cirúrgica do Porto em 1915. No ano seguinte inicia a sua carreira docente universitária e em 1918 é nomeado Professor catedrático de Histologia e Embriologia da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, ao mesmo tempo que participa nas primeiras exposições de pintura. A partir de 1932 participa numa campanha de educação positiva da juventude enquadrada por associações académicas republicanas e anti-salazaristas. A perseguição censória aos seus escritos ( estava proibido de versar em público matérias não cientificas) levaram-no a abandonar o país para um curto exílio voluntário em Paris entre Março e Agosto de 1934.Em Maio deste ano é apanhado pela primeira grande purga política da função pública e da Universidade ( ver caps. I e II), sendo compulsivamente exonerado da docência. Não é autorizado a sair do país e dedica-se intensamente à pintura e à produção literária e ensaística em vários jornais e revistas. Nos seus textos demarca-se do fascismo e também do comunismo, afirma o seu anticlericalismo e defende uma concepção cientifico-filosófica inspirada no agnosticismo. Em 1941, graças ao seu grande prestígio académico, é reintegrado na Faculdade de Farmácia no Porto, onde dirige o Centro de Estudos Microscópicos. Mantém, todavia, as suas actividades contra o regime, e a sua adesão ao Movimento de Unidade Democrática, em 1945, originam novas perseguições, já no fim prematuro da sua vida (morre com 57 anos).

Álvaro Isidro Faria Lapa (1882 – não foi possível determinar a data da morte)

Licenciado na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa em 1906, onde é professor especializado nas áreas de dermatologia e venerologia. Nomeado médico dos HCL, dirige de 1911 a 1935 a consulta de doenças venéreas do Hospital dos Deterros. Participa activamente, durante mais de 20 anos, em diversas publicações ligadas às ciências médicas e em associações internacionais de dermatologia destacando-se o seu papel como representante de Portugal na Comissão Internacional de Luta contra a Lepra. Foi demitido na vaga de depuração política da Junção pública e da Universidade ordenada pelo Governo em Maio de 1935.

Aurélio Pereira da Silva Quintanilha (1892-1987)

Licenciado em Ciências Histórico Naturais pela Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, entra na carreira docente universitária em 1919 como assistente do grupo de botânica e dinamizador de um centro de estudos de biologia experimental. É nomeado catedrático em 1926, sendo Director do Laboratório Botânico. Em 1928 parte para um estágio na Universidade de Berlim, especializando-se em genética de fungos e ganhando notoriedade internacional. Regressa a Portugal e à docência em 1931 sendo aposentado compulsivamente pela purga politica de Maio de 1935 (ver caps. I e II). Sem meios de subsistência, aceita a oferta de uma bolsa do governo inglês sugerida por botânicos britânicos conhecedores do seu trabalho científico, podendo prosseguir as suas investigações num laboratório à sua escolha. Quando estala a II Guerra Mundial alista-se como voluntário no exército francês regressando a Portugal em 1940. Trabalha, então, a título gracioso na Estação Agronómica Nacional (a reforma compulsiva impedia-o de exercer qualquer função remunerada no Estado). Em 1943 ganha o prémio Artur Malheiros e parte para Lourenço Marques onde vai dirigir os serviços da Junta de Exportação de Algodão (sendo um organismo de coordenação económica os seus funcionários não eram funcionários públicos), chegando a ser director do Centro de Investigação Cientifica Algodoeira. Após os 25 de Abril de 1974 é reintegrado como professor catedrático convidado de Botânica na FCUC. É jubilado em Novembro de 1974.

José Mendes Ribeiro Norton de Matos (1967-1955)

General, político de grande destaque na I República, foi Ministro das Colónias e Ministro da Guerra entre 1915 e 1917, sendo um dos grandes defensores e obreiros da intervenção militar portuguesa na frente europeia da Grande Guerra. Desde sempre ligado à administração colonial, foi Governador Geral de Angola (1912-1915) e, derrubada a situação sidonista e o perigo restauracionista e reinstalado o regime constitucional de 1911, integra a delegação portuguesa à Conferência da Paz (Paris, 1919) e é nomeado Alto Comissário de Angola (1919-1924), onde a sua política deixará um rasto profundo. É nomeado embaixador em Londres em 1924, sendo aí surpreendido pelo golpe militar de 28 de Maio de 1926 que derruba a I República (será preso e deportado para os Açores entre 1927 e 1929). É eleito Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano Unido em 1929. Em 1935 a Maçonaria é ilegalizada e na purga da função pública e da Universidade do mês de Maio desse mesmo ano, Norton de Matos é exonerado compulsivamente do cargo de professor do Instituto Superior Técnico de Lisboa. Figura tutelar da oposição democrática ao regime salazarista, Norton de Matos participará em várias conspirações para o derrubar ao longo dos anos 30 e 40 e presidirá aos grandes projectos unitários da oposição nos anos 40: ao clandestino MUNAF (Movimento de Unidade Nacional Antifascista), ao legalmente tolerado (entre 1945 e 1948) MUD (Movimento da Unidade Democrática) e será o primeiro candidato apresentado pela oposição unida às eleições presidenciais do regime, em 1949, onde acaba por não se apresentar por falta de condições democráticas.

Manuel Rodrigues Lapa (1897-1989)

Uma das figuras cimeiras da filologia, do ensaismo e da crítica literária no século XX português, licenciou-se em Filologia românica em 1919 pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Foi professor liceal de 1920 a 1928, ano em que entra como assistente na FLUL. Bolseiro da Junta de Educação Nacional em Paris (1929-1930) doutorou-se na Sorbonne. Em 1932/33, em razão das suas opiniões sobre a “política do idioma nas Universidades”, não só lhe vê recusada a abertura do concurso para catedrático , como não lhe é renovado o contrato pela Faculdade. Face aos protestos dos alunos, consegue ser colocado como professor auxiliar agregado num outro concurso em 1933. Mas em Maio de 1935 é exonerado compulsivamente na purga política desse ano, por não dar garantias de fidelidade ao regime. Será director do jornal O Diabo de 1935 a 1937, desenvolve intensa actividade como ensaísta e publicista e dá cursos particulares que influenciam profundamente os estudantes de literatura. Apoiante da candidatura presidencial de Norton de Matos é preso em 1949. Em 1954 exila-se no Brasil onde leccionará em universidades de Belo Horizonte e do Rio de Janeiro. Regressa a Portugal em 1962 onde continuará a sua intensa produção ensaística e crítica aos sistemas de ensino e investigação. O pós 25 de Abril de 1974 prestar-lhe-á várias homenagens académicas e politicas.

Sílvio Rodrigues Lapa (1904-1993)

Filósofo, psicólogo, livre-pensador e professor na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Inicia a sua carreira docente no ano em que se licencia em 1927, leccionando nas áreas da Psicologia, da Filosofia, de História, da Pedagogia e da Didáctica. Doutorou-se em França em 1928 com aquela que é considerada a primeira tese de um português no campo da psicologia da cognição. Amigo e correspondente assíduo de figuras da intelectualidade oposicionista ao salazarismo, como António Sérgio ou Manuel Mendes, os olhos do regime dão por ele quando publica umas “notas críticas” a um livro do cardeal Cerejeira, em 1930. Em 1935 é demitido do seu cargo na purga política da função pública de Maio desse ano. É reintegrado na Universidade em 1942, onde a sua acção passa a ser sujeita a um apertado escrutínio sobre o espartilho político e pedagógico já existente. Pede a demissão, desgostoso e cansado, que lhe é concedida em 1965, mantendo sempre uma atitude fortemente crítica do regime.

1941

José Maria Vilhena Barbosa de Magalhães (1879-1959)

Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, republicano, foi eleito deputado à Assembleia Constituinte em 1911. Entre 1913 e 1922 foi Ministro da Justiça, da Instrução Pública e dos Negócios Estrangeiros. Em 1933 é eleito Bastonário da Ordem dos Advogados. Reputado Jurista, presidiu a várias comissões internacionais de Direito Internacional comparado, deixando vasta obra jurídica em publicações da especialidade. Professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa onde leccionava a cadeira de Direito Comercial foi objecto de insistentes pressões políticas que resultaram na exoneração coerciva das suas funções docentes em 1941. Posteriormente, em 1945, foi eleito dirigente do MUD (Movimento de Unidade Democrática).

1946

Bento de Jesus Garaça (1901-1948)

Figura cimeira da cultura, da ciência e do pensamento do século XX português, distinguiu-se igualmente na resistência antifascista e na criação dos instrumentos de uma moderna cultura democrática e de massas no país. Licenciado em 1924 pelo Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (ISCEF) da Universidade Técnica de Lisboa entrou para assistente logo no 2º ano do curso. Professor de Matemáticas Superiores – Álgebra Superior e cadeiras afins, foi nomeado catedrático dessas áreas de estudo em 1930, com 29 anos. Foi com Aniceto Monteiro, Ruy Luís Gomes e vários outros jovens investigadores, um dos pilares do Movimento Matemático (ver nota 13 do capítulo I), criando e dirigindo o Centro de Estudos Matemáticos Aplicados à Economia, integrado no ISCEF, desde 1938 até 1946. Co-fundador da Sociedade Portuguesa de Matemática (a que presidiu em 1943/44), da Gazeta de Matemática, da Junta de Investigação Matemática, da revista Portugaliae Mathematica, desenvolveu larga actividade de leccionação, investigação e publicação nesta área – designadamente no campo da econometria. Dessa obra cabe salientar o livro clássico Conceitos Fundamentais de Matemática. Recusando fechar-se no mundo académico, fiel às suas origens sociais no mundo do trabalho rural, promoveu um vasto programa de divulgação cultural e científica de massas, sem precedentes no país, apesar das enormes dificuldades e restrições colocadas pelo regime. Os seus grandes instrumentos, entre outros, serão a Universidade Popular Portuguesa (a cujo Conselho Administrativo pertenceu desde a sua fundação em 1919) e a célebre Colecção Cosmos, editada pela UPP. Além da variada e inovadora actividade editorial, essa acção desdobrou-se por dezenas de cursos e palestras sobre temas da cultura, da ciência, da sociedade, realizados em sociedades recreativas, associações de cultura popular, sindicatos, etc. É fruto dessa actividade a sua emblemática palestra sobre: A Cultura Integral do Individuo, problema central do nosso tempo. Militante antifascista, desde cedo se empenha nos esforços de unidade da resistência ao regime na frente clandestina e na acção legalmente tolerada no pós-guerra. Será membro da Liga Portuguesa contra a Guerra e o fascismo (1934), da Frente Popular Portuguesa (1936), do Movimento de Unidade Nacional Antifascista (MUNAF) de que é co-fundador em 1943 e da Comissão Central do Movimento de Unidade Democrática em 1945/46. Em Setembro de 1946, o Ministro da Educação, Fernando Pires de Lima, instaura-lhe um processo disciplinar como co-signatário do manifesto O MUD perante a admissão de Portugal à ONU, onde se reclama a prévia democratização do regime e o respeito pela Carta como condição da sua admissibilidade nas NU. Foi demitido e expulso da Universidade em 5 de Outubro de 1946, sendo-lhe proibida a docência no ensino público e privado. Em Outubro e Dezembro desse ano é sucessivamente preso pela PIDE. O seu Centro de Estudos Matemáticos é encerrado pelo Ministério da Educação Nacional. Debatendo-se com dificuldades económicas passa a dar lições em sua casa que continua como activo centro de vida política e cultural. Em 1948 a sua doença cardíaca agrava-se. O MUD é ilegalizado nesse ano pelo Governo e os membros da sua comissão central, entre os quais Bento Caraça, são presos pela PIDE. Participa ainda, em 1948, na conversão das estruturas do ilegalizado MUD em base de apoio à candidatura do general Norton de Matos às eleições presidenciais de Fevereiro do ano seguinte. Mas nessa Primavera já está muito doente, vindo a falecer, na sua casa de Lisboa, em 25 de Junho de 1948, aos 47 anos. O seu funeral, encabeçado pela juventude, constituiu uma impressionante homenagem popular à memória de Bento de Jesus Caraça. A democracia, em 1980, condecorou-o a título póstumo com o grau de Grande Oficial da Ordem da Liberdade.

Mário de Azevedo Gomes (1885-1965)

Politico republicano, figura tutelar da Oposição Democrática ao salazarismo e agrónomo destacado nas áreas da silvicultura e estudo dos solos. Licenciado em Engenharia Agrónoma em 1907, especializou-se na investigação silvícola. Foi professor da Escola Nacional de Agricultura de Coimbra (1909-1914), sendo admitido como docente do Instituto Superior de Agronomia em 1914. Exerceu diversos cargos técnicos e administrativos durante a I República. Por indicação do grupo da revista Seara Nova foi Ministro da Agricultura no Governo de Álvaro de Castro entre Dezembro de 1923 e Fevereiro de 1924. Foi director da Estação Agrária Central entre 1927 e 1936. Membro da Comissão Central do Movimento de Unidade Democrática em 1945/46 (a que presidiu), é alvo de um processo disciplinar como principal signatário do manifesto O MUD perante a admissão de Portugal na ONU em que se reclama a não aceitação do Governo salazarista nas NU dado o seu carácter anti-democrático. É demitido da Universidade (será reintegrado em 1951) e preso pela PIDE em Outubro de 1946, voltando às prisões políticas em 1948, quando o MUD é ilegalizado. Presidiu aos serviços de candidatura do General Norton de Matos (1948-1949) e foi destacado apoiante da candidatura do general Humberto Delgado em 1958, ano em que é novamente preso. Em 1961 é o primeiro subscritor do Programa para a Democratização da República.

1947

Adelino José da Costa (1898-1962)

Licenciado em Medicina pela Faculdade de Medicina de Lisboa e membro do seu corpo docente desde 1920. É Chefe do Laboratório da Clínica Propedêutica do Hospital Escolar em 1922 e doutora-se em 1924, tornando-se um prestigiado cirurgião dos Hospitais Civis de Lisboa e do Hospital dos Capuchos. Rege a cadeira de Propedêutica Cirúrgica e desempenha funções docentes na Escola de Enfermagem Artur Ravara. Torna-se professor catedrático em 1947, ano em que é aposentado compulsivamente na purga política da Universidade de Junho desse ano. Será reintegrado na docência 11 anos mais tarde, por despacho do Conselho de Ministros de 11/11/1959.

Alfredo Pereira Gomes (1919-2006)

Licenciado e doutorado em Matemática pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Integrou a “geração de ouro” do Movimento Matemático (ver nota 13, cap. I), colaborando activamente no Centro de Estudos Matemáticos do Porto e nas diversas iniciativas e publicações científicas do movimento, emparceirando com Ruy Luís Gomes, Aniceto Monteiro, Bento de Jesus Caraça, Zaluar Nunes e vários outros. Em 1947, juntamente com Ruy Luís Gomes e outros colegas, é alvo de um processo disciplinar e demitido por ter subscrito uma carta de protesto contra a prisão de uma estudante. Impedido de trabalhar e cortado o acesso a bolsas de estudo, abandona o país para França e daí, em 1953, para a Universidade do Recife, Brasil, a convite do seu reitor. Na sua esteira seguirão, pouco depois, outros matemáticos perseguidos politicamente que darão um importante contributo ao desenvolvimento das ciências matemáticas no Brasil e a nível internacional. O golpe militar de 1964 apanha Alfredo Pereira Gomes a leccionar na Universidade de Nancy, em Paris, onde decide ficar. Regressa a Portugal em 1972, dedicando-se ao relançamento da revista Portugaliae Mathematica e à reactivação da Sociedade Portuguesa de Matemática.

Andrée Jeanne Françoise Crabbé Rocha (1917-2003)

Licenciada em Filologia pela Universidade de Bruxelas, adquire a nacionalidade portuguesa pelo casamento, em 1940, com Miguel Torga. Doutorou-se em 1944 na Faculdade de Letras de Lisboa. Em 1945 integra o seu corpo docente, trabalhando com Vitorino Nemésio. É afastada da FLUL na vaga de depuração política das universidades de Junho de 1947. Recorre então às explicações particulares e às aulas na Alliance Française de Coimbra e dedica-se à investigação na área da literatura portuguesa. É readmitida, após concurso, na FLUL em 1970. Em 1976 passa a leccionar na Universidade de Coimbra.

António Augusto Ferreira Macedo (1887-1959)

Licenciado em Ciências Matemáticas pela Universidade de Lisboa, é professor liceal e do ensino técnico e foi um dos fundadores da Universidade Popular Portuguesa (UPP) onde faz amizade com Bento de Jesus Caraça. Membro do “grupo da Biblioteca Nacional” (com Jaime Cortesão, António Sérgio, Raul Proença) é co-fundador da revista Seara Nova (1921) e funcionário superior da BN. Em Outubro de 1927 entra como assistente no Instituto Superior Técnico, acedendo ao lugar de catedrático em 1943. Ensina Matemáticas Gerais e participa no Movimento Matemático (ver nota 13 do cap. I) fazendo parte da Sociedade Portuguesa de Matemática. Pedagogo e divulgador, é um entusiasta, com Bento Caraça, do movimento cultural de massa da UPP, designadamente na luta pela modernização dos métodos de ensino e de formação de professores. Democrata, defensor do ensino livre, adere ao Movimento de Unidade Democrática (MUD) contra o regime, em 1945/46. O que lhe valerá ser incluído na purga política dos professores de Junho de 1947.

Armando Carlos Gibert (1914-1985)

Licenciado em matemática pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa é contratado como assistente de Fisica. Trabalha com Manuel Valadares, então investigador do Laboratório de Física da FCUL, com quem estabelece amizade, bem como com alguns dos principais animadores do Movimento Matemático (ver nota 13 do cap.I) onde se integra. Funda com Aniceto Monteiro e Hugo Ribeiro, em 1939, a Gazeta de Matemática cujo primeiro número é publicado em Janeiro de 1940. Consegue uma bolsa do IAC para estudar no Instituto de Física da Escola Politécnica de Zurique e aí defende o doutoramento. Funda com os seus “amigos matemáticos” a Gazeta de Física que aparece em Outubro de 1946. Mas em Junho de 1947 o seu nome integra a lista dos docentes demitidos por razões políticas. Graças à indicação de Manuel Valadares (também demitido) arranja um emprego da Corticeira Robinson, mas continua os seus trabalhos de investigação. Em 1953 consegue entrar para o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) onde permanece até 1960. Foi um dos pioneiros da energia nuclear em Portugal, tendo sido director da Companhia Portuguesa de Industrias Nucleares. Após o 25 de Abril de 1974 regressa às suas funções docentes na FCUL, sendo o seu doutoramento finalmente reconhecido. A convite da Faculdade leccionará até 1979 a cadeira de História da Física.

Arnaldo Peres de Carvalho (1904-1989)

Catedrático do Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa onde rege a cadeira de Química Orgânica, dirigindo o respectivo Laboratório a partir de 1938. Juntamente com António Silveira (professor de Física no IST) e outros elementos do Movimento Matemático (ver nota 13, cap. I) funda, em 1936, o Núcleo de Estudos de Matemática. Física e Química do IST, precursor dos Centros de Estudos Matemáticos. É alvo da depuração política das Universidades em Junho de 1947.

Augusto Pires Celestino da Costa (1884-1956)

Formou-se em Medicina em 1905 pela Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa e aprofunda os seus estudos em Berlim. Em 1911 inicia a sua carreira docente na nova Faculdade de Medicina de Lisboa, da qual será director entre 1935 e 1942, sendo co-fundador do Instituto de Histologia e Embriologia. É um dos pioneiros da organização da investigação científica no país, chegando a ser, entre outras funções dirigentes, presidente da Junta de Educação Nacional (JEN, organismo criado em 1928 no Ministério de Instrução para apoio à investigação e aos investigadores) e, depois, do Instituto de Alta Cultura (IAC) que substitui a JEN com a reforma da “educação nacional” do Ministro Carneiro Pacheco, em 1936. Mas ajudou ainda a fundar várias sociedades cientificas ligadas ás Ciências Naturais, aos estudos pedagógicos e à educação. Foi exonerado compulsivamente do seu lugar de catedrático pelo Governo na purga política das universidades, em Junho de 1947. Em Setembro desse ano foi reintegrado, após recorrer da medida. Foi autor de uma vasta obra de investigação e análise científica, sendo considerado um dos médicos mais brilhantes da sua geração, designadamente devido ao importante contributo que trouxe aos estudos no campo da embriologia.

Augusto Sá da Costa

Licenciado pelo instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (ISCEF) da Universidade Técnica de Lisboa e admitido como assistente, é bolseiro do IAC e doutora-se no âmbito das investigações realizadas no centro de Estudos de Matemáticas Aplicadas á Economia, dirigido por Bento de Jesus Caraça, não sendo a sua tese aceite pelo Conselho Científico. Pertenceu à geração do Movimento Matemático (ver nota 13, cap I), integrando também o Centro de Estudos Matemáticos de Lisboa e a Sociedade Portuguesa de Matemática. Pertenceu, como estudante, ao Bloco Académico Antifascista (BAA) e as suas posições políticas democráticas tornam-no um alvo da depuração política das universidades ordenada pelo Governo em Junho de 1947.

Aurélio Marques da Silva (1905-1965)

Docente da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa na área da Física e investigador discípulo de Armando Cyrillo Soares que anima, desde o início dos anos trinta, um movimento de modernização da investigação na área da Física em torno do Laboratório de Física da Universidade Lisboa e depois do Centro de Física criado em 1940 com o apoio do IAC. Esse movimento cruza-se como o Movimento Matemático ( ver nota 13, cap I), designadamente no Núcleo de Matemática, Física e Quimíca, criado em 1936, estabelecendo um grupo de estreita cooperação onde se juntam nomes de físicos como Aurélio Marques da Silva ou Manuel Valadares aos de matemáticos como Ruy Luís Gomes, Aniceto Monteiro ou Armando Gibert. Aurélio Marques da silva especializou-se, então, no estudo da radioactividade e da espectroscopia dos raios X, iniciando em 1933 um estágio em França no Laboratório Curie. Sob a supervisão de Marie Curie (e, após a sua morte de Juliot Curie) doutora-se na Sorbonne, em Paris, prosseguindo aí e no College de France a sua especialização, no quadro da qual publica vários trabalhos. Regressa a Portugal em 1938, retomando a sua intensa actividade docente e científica. É um dos fundadores, em 1943, da Portugaliae Physica. Tendo apoiado, em 1940, a vinda a Portugal do investigador italiano Benedetti, vítima de legislação anti-semita e tentado que viesse o austríaco Guido Beck – ligado ao percurso científico de boa parte desta geração de jovens cientistas portugueses – Aurélio M. da Silva torna-se objecto das atenções da polícia política, numa altura em que os apoios oficiais aos Centros científicos “suspeitos” começam a fechar-se. Apoiante do Movimento de Unidade Democrática (MUD) em 1945/46, o seu nome é incluído na lista dos afastados das universidades na purga política de Junho de 1947, a par de quase todas as figuras de destaque da modernização dos estudos da Física e da Matemática. Afastado da docência académica e da investigação, Aurélio Marques da Silva acaba por seguir a profissão de engenheiro civil.

Carlos Fernando Torre de Assunção (1901-1987)

Cursou engenharia militar na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa mas licenciou-se em Ciências Histórico – Naturais em 1922, iniciando a sua carreira docente no ano seguinte e chegando a catedrático em 1942. Desempenhou numerosas funções técnicas nos ministérios da Educação nacional e das Colónias. Liga-se no inicio dos anos quarenta a um partido clandestino recém-aparecido na área socialista, o Núcleo de Doutrinação e Acção Socialista. É apanhado pela purga política das universidades ordenada pelo regime em Junho de 1947, mas é reintegrado após interpor recurso da medida. Regressa à FCUL e lecciona Geografia na Faculdade de Letras de Lisboa. Com inúmeros trabalhos de prestígio publicados na área das Ciências Naturais, preside à respectiva Sociedade, sempre com grande reconhecimento dos seus pares.

Fernando da Conceição Fonseca (1895-1974)

Licenciado em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa onde leccionou nas áreas de Clínica médica e Doenças infecto-contagiosas atingindo a posição de catedrático. Fez parte do Corpo Expedicionário Português que combateu na Europa na Grande Guerra, o que lhe permitiu larga experiência profissional e contactos internacionais. Discípulo de Francisco Pulido Valente, torna-se um dos clínicos mais reputados do país pela sua competência e rigor. À semelhança do seu mestre, assume uma visão humanista da sociedade e crítica ao regime. E tal como ele é alvo da purga política das Universidades ordenada pelo Governo em Junho de 1947. Médico dos Hospitais Civis de Lisboa e do Curry Cabral, membro do Instituto Bacteriológico Câmara Pestana e de várias sociedades médico-científicas é-lhe reconhecida a importância no melhor conhecimento de doenças como a Tifo, a Malária e o Colesterol.

Flávio Ferreira Pinto Resende (1907-1967)

Licenciou-se em Ciências Naturais pela Universidade do Porto em 1928. Iniciou a sua carreira de docente do ensino superior em Coimbra, na Faculdade de Ciências, na área de Botânica. Aurélio Quintanilha, reconhece o seu potencial e recomenda-o para uma bolsa de especialização em Citogenética na Alemanha nos Laboratórios em Berlim e na Universidade de Hamburgo, onde se doutorou. Depois de regressar a Portugal trabalhou como 1º assistente de Botánica na Faculdade de Ciências do Porto posteriormente, em 1943, leccionou na Faculdade de Ciências de Lisboa, ocupando a posição de professor catedrático. Exerceu, ainda, as funções de Director da Secção de Botânica e de Director do Instituto Botânico, do Jardim Botânico, bem como de Director do Instituto de Biologia da Fundação Gulbenkian, do qual foi fundador. Demitido na purga politica das Universidades em Junho de 1947 é readmitido, a 10 de Setembro do mesmo ano, após provimento ao recurso que interpôs. Publicou mais de uma centena de artigos e influenciou cientifica e pedagogicamente o estudo da Fisiologia Celular das plantas, afirmando-se como um dos maiores especialista da área nessa época.

Francisco Pulido Valente (1884-1963)

Médico, professor, cientista, homem de cultura, profundo conhecedor das artes e literatura, cidadão interventivo na I República e na luta contra a ditadura, Francisco Pulido Valente marcou com o seu decisivo contributo a história da medicina científica em Portugal e a da humanização da sua prática clínica. É uma das principais figuras, enquanto jovem estudante republicano de medicina, da crise académica de 1907 e mantém activa intervenção na vida da I República até ser mobilizado para França durante a Grande Guerra. Terminou o curso em 1909 na Escola Médico-cirúrgica de Lisboa e entrou no corpo docente da Faculdade de Medicina de Lisboa, em 1912, para leccionar sob a orientação de Júlio de Matos. De 1914 a 1917 investiga a sífilis no Laboratório Câmara Pestana. Regressado da guerra em 1919, retoma a carreira docente investigando e leccionado nas áreas da Clínica Médica e da Patologia. Nos anos vinte já são discípulos médicos como Cascão de Anciães ou Fernando da Fonseca, preocupando-se com a sua especialização em laboratórios e clínicas na Alemanha. Como docente e investigador combate nos trabalhos que publica o dogmatismo e defende a transversalidade dos saberes científicos; como cidadão, apoia com desassombro a resistência antifascista e o Movimento de Unidade Democrática (MUD) fundado em Outubro de 1945. Apesar do seu enorme prestígio cívico e profissional o Governo inclui-o na lista dos aposentados compulsivamente na purga política das Universidades em Junho de 1947. Já doente ainda participa na omissão de honra da candidatura do general Humberto Delgado à presidência da República, em 1958.

Hugo Batista Ribeiro (1910-1988)

Licenciou-se em Ciências Matemáticas pela Faculdade de Ciências de Lisboa em 1939 e ingressou no seu corpo docente. É um dos mais brilhantes matemáticos portugueses, tanto como investigador, como enquanto dotado divulgador e pedagogo. Participa activamente, desde estudante, no Movimento Matemático (ver nota 13 cap. I): na Fundação da Portugaliae Mathematica e da Gazeta de Matemática e nos trabalhos da Sociedade Portuguesa de Matemática e dos Centros de Estudos Matemáticos de Lisboa e do Porto. Bolseiro do IAC em 1942, estagia na Escola Politécnica Federal de Zurique onde se doutora em 1946. É galardoado com o Prémio Artur Malheiros da Academia de Ciências. Militante antifascista desde jovem, é um activista da Universidade Popular Portuguesa, onde trabalha com Bento Caraça, e do Socorro Vermelho Internacional. Regressado a Portugal retoma as suas funções docentes no Laboratório de Física da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, mas é demitido na purga política das Universidades em Junho de 1947. É então convidado a leccionar nos EUA, passando pelas Universidades da Califórnia, do Nebraska e da Pensilvânia e, pontualmente, pela Universidade Federal de Pernambuco, engrossando aí o número de matemáticos portugueses exilados. Após o 25 de Abril de 1974 volta a Portugal para leccionar, juntamente com a sua mulher, Maria Pilar Ribeiro, também uma matemática brilhante, na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.

João Cândido da Silva Oliveira (1906 -1991)

Licenciado na Faculdade Medica de Lisboa é nomeado, em 1933, Analista Chefe de Laboratório da 1ª Clínica Médica, Assistente de Bacteriologia e Parasitologia no Instituto Câmara Pestana em 1936. Entrega a sua tese de Doutoramento e inicia , em 1943, a sua carreira docente como professor extraordinário na FML. No ano seguinte torna-se professor catedrático de Bacteriologia. É reformado compulsivamente, na purga das Universidades de Junho de 1947. Volta à cátedra quando é publicado , a 10 de Setembro desse ano, o provimento ao seu recurso ocupando funções de docente por mais 32 anos. A par da sua acção pedagógica dedica-se à investigação; desenvolve novos métodos ligados à análise laboratorial e publica vários trabalhos, quer individuais, quer em co-autoria com alguns dos grandes vultos da ciência como o Nobel Egas Moniz. Ocupa partir de 1959 e durante 6 anos, o cargo de Presidente da Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa e entre 1970 e 1975 é Director da Faculdade de Medicina de Lisboa.

 

João Lopes Raimundo ( 1900-1948)

Licenciado em Engenharia Químico-Industrial em 1923 no Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa. Iniciou a sua carreira docente, nesse mesmo Instituto, como assistente da cadeira de Química Tecnológica em 1931. A partir de 1936, na qualidade de professor interino, passa a dirigir as disciplinas de índole tecnológica. Director Técnico da Companhia Industrial Portuguesa aliava essa vertente industrial às suas aulas, procurando transmitir uma perspectiva prática e industrial em que as medidas eram preferencialmente racionalizadas em toneladas e não em miligramas. O seu afastamento, ditado pela purga da Universidades em Junho de 1947, aliado a um estado debilitado de saúde afastam-no da docência. Engenheiro detentor de uma carreira considerada brilhante, foi o responsável pela introdução no nosso país de novos métodos da fabricação de vidro. Foi ainda vogal da Junta Consultiva do Instituto Português de Combustíveis e da Comissão de Explosivos.

João Remy Teixeira Freire

Licenciado em economia pelo Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (ISCEF), integra o seu corpo docente e é assistente de Bento de Jesus Caraça, participando no Centro de Estudos de Matemática Aplicada à Economia do ISCEF e sendo um dos fundadores da Sociedade Portuguesa de Matemática. Como estudante, militou no Bloco Académico Anti-Fascista e nas actividades de resistência à ditadura nos anos 40. Já doutorado pelo ISCEF é reformado compulsivamente na purga política das Universidades ordenada pelo Governo em Junho de 1947. Em 1952 é convidado a assumir funções docentes na Faculdade de Filosofia da Universidade de Curitiba, Brasil. Já no Brasil (naturalizar-se-á cidadão brasileiro), Remy Freire obterá o Doutoramento de Estado em estatística pela Sorbonne. Professor carismático, granjeou no Brasil largo círculo de amizade, fundando a Sociedade Paranaense.

Jorge Alberto Delgado de Oliveira

Licenciado em Matemática e jovem assistente da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Terá sido durante um breve período assistente de Ruy Luís Gomes. Foi afastado da Faculdade em Junho de 1947, tal como alguns dos seus colegas, por ter subscrito uma carta de protesto contra a prisão pela PIDE da aluna Nazaré Patacão da FCUP.

José Cardoso Morgado Júnior (1921-2003)

Antes de concluir a licenciatura, José Morgado já se encontava ligado às principais iniciativas do Movimento Matemático (ver nota 13,cap I) : Portugaliae Mathematica,; Seminário Matemático de Lisboa; Centro de Estudos de Matemáticas Aplicadas à Economia; Gazeta de Matemática; Centro de Estudos Matemáticos de Lisboa e do Porto; Sociedade Portuguesa de Matemática; Junta de Investigação Matemática e Tipografia Matemática de Lisboa. Concluiu a licenciatura em Ciências Matemáticas na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto em 1944. Durante algum tempo foi assistente de Ruy Luís Gomes do qual ficaria amigo. Em 1945 foi contratado como assistente do Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa. Foi demitido, em conjunto com a maioria dos seus companheiros matemáticos, na purga das Universidades ordenada pelo Governo em Junho de 1947. Após o seu afastamento oficial da Universidade dedicou-se durante 13 anos a dar explicações como forma de subsistência e manutenção da ligação ao ensino. A sua actividade cultural e politica não esmoreceu com o seu afastamento da docência e a perseguição por parte do regime foi aumentando, em especial após a Candidatura de Ruy Luís Gomes à Presidência da República em 1951. Em Janeiro de 1952, como membro do Comissão Central do Movimento Nacional Democrático, subscreve o manifesto Pacto de Paz e não Pacto do Atlântico, que originou, mais uma vez, a sua detenção assim como do seu mentor e companheiro de luta Ruy Luís Gomes. Os anos entre 1947 e a sua saída do País foram marcados por várias prisões e agressões por parte da polícia política. Forçado ao exílio pela acção repressiva do regime, encontrou no Brasil, perto de matemáticos portugueses, um porto de abrigo e um local primordial para prosseguir a sua vida académica .  Em Janeiro de 1960 foi contratado como professor de Matemática da Universidade Federal de Pernambuco. Em 1967, conjuntamente com Ruy Luís Gomes, iniciou os cursos de Mestrado em Matemática no Instituto de Matemática da Universidade. Ao longo da sua permanência no Recife o seu trabalho cientifico promoveu um notável crescimento da matemática nesse pais. Mesmo no exílio, e tal como Ruy Luís Gomes, José Morgado nunca esqueceu a necessidade de continuar lutar por um mudança politica e social no País, sentindo que a guerra colonial seria uma peça fulcral para a queda do regime. Com o 25 de Abril regressa a Portugal e em Outubro é reintegrado no lugar de assistente no Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa. No mês seguinte é nomeado professor catedrático do Departamento de Matemática Pura da Faculdade de Ciências e Vice Reitor da Universidade Porto. Ocupa a direcção da Reitoria entre finais de 1974 e Novembro de 1976, sucedendo a Ruy Luís Gomes. Jubilado em Fevereiro de 1991 continua a leccionar no Departamento de Matemática Pura até Julho de 1998. Enquanto estudioso debateu-se pelo progresso cientifico e cultural e enquanto cidadão debateu-se sempre pela liberdade convicto da simbiose entre ambas.

José Henrique Cascão de Anciães (1897 – sem data confirmada sobre o óbito)

Aluno na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e discípulo de Francisco Pulido Valente, dedicou a essa faculdade toda a sua carreira de docente. Professor extraordinário das áreas de Patologia, de Terapêutica, e de Clínica Médica ,foi mentor de vários alunos destacando-se os nomes de Júlio Correia Madeira e João Simões Raposo. Pertenceu ao Instituto de Patologia Geral e Anatomia Patológica e ao Instituto de Fisiologia, ambos da Faculdade de Medicina e foi dirigente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia. A purga politica das Universidades de Junho de 1947 afastou-o do ensino na Faculdade. A sua carreira médica e docente, pautou-se por uma profunda competência e rigor aliados a uma constante tentativa de aguçar o espírito das novas gerações.

Laureano Barros (1921-2008)

Licenciado em Matemática pela Faculdade de Ciências do Porto com elevadas classificações, integrou a docência a convite de Ruy Luís Gomes a quem o passarão a ligar estreitos laços de amizade, cooperação cientifica e solidariedade política. Sendo assistente, em 1947 é demitido, juntamente com Ruy Luís Gomes e outros colegas, por ter subscrito uma carta de protesto contra a prisão pela PIDE da aluna Nazaré Patacão da FCUP. Interrompida a carreira e abandonado o projecto de doutoramento, é também impedido de leccionar no ensino técnico e secundário. Recorre então a uma sala de explicações particulares para alunos no ensino superior que mantém até 1974/75. Depois do 25 de Abril de 1974 é reintegrado no ensino, optando pelo ensino secundário. É colocado no liceu Alexandre Herculano no Porto.

Luís Hernâni Dias Amado (1901-1982)

Licenciado em Medicina pela Faculdade de Medicina de Lisboa em 1924, entra na carreira docente desenvolvendo larga actividade de ensino e investigação, designadamente no campo da Histologia, matéria que continua a leccionar após o doutoramento. Democrata e resistente antifascista pertenceu ao Movimento de Unidade Nacional Antifascista (MUNAF) e ao Movimento de Unidade Democrática (MUD), sendo aposentado compulsivamente na purga política das Universidades ordenado pelo Governo em Junho de 1947. Manteve todavia o seu laboratório particular e o estudo e publicações de carácter científico. Apoiante da candidatura do general Humberto Delgado às eleições presidenciais de 1958, subscritor do Programa para a Democratização da República, em 1961, preso pela PIDE, em 1963, sob a acusação de pertencer às Juntas de Acção Patriótica, foi um dos fundadores da Acção Socialista Portuguesa. Reintegrado simbolicamente como professor catedrático convidado após o 25 de Abril de 1974.

Manuel José Nogueira Valadares (1904-1982)

Uma das mais prestigiosas figuras da ciência portuguesa do século XX, Manuel Valadares licenciou-se em Física pela Faculdade de Ciências de Lisboa, iniciando de seguida, em 1927, a sua carreira docente. Bolseiro da Junta de Educação Nacional, estagia em 1929 e 1930 no Instituto de Rádio de Genebra e aprofunda depois a sua especialização no Laboratório de Marie Curie que supervisionou o seu doutoramento (depois de morrer o seu marido Juliot Curie substitui-a nessa função) obtido na Sorbonne em 1933. Regressado a Portugal, aprofunda as suas investigações no campo da Física Nuclear e da Espectrometria dos raios-x no Laboratório de Física da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, em conjunto com Aurélio Marques da Silva. Foi um dos fundadores da Portugaliae Physica e nela e na Gazeta de Fisica, entre outras, publicou vários dos seus trabalhos. Era assistente da FCUL, quando foi demitido compulsivamente das suas funções pela purga política das Universidades ordenada pelo Governo em Junho de 1947. Detentor de um reconhecido mérito internacional como cientista é convidado a trabalhar no Laboratório Curie, em Paris, progredindo rapidamente na sua carreira sem, no entanto, se desligar nem do panorama científico português, nem da luta política antifascista. Após o 25 deAbril de 1974 foi-lhe atribuído o doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Lisboa, em 1981.

Manuel Augusto Zaluar Nunes (1907-1967)

Licenciado em ciências matemáticas pela Faculdade de Ciências de Lisboa em 1928, foi uma das mais destacadas figuras do Movimento Matemático (ler nota 13, cap I) dos anos 30 e 40, participando nesse movimento de renovação e modernização dos estudos matemáticos como co-fundador da Portugaliae Mathematica,redactor principal da Gazeta Matemática, Presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática e conferencista dos seminários dos seus centros de estudos. Durante esse período desenvolveu intensa actividade de investigação em centros especializados em França como bolseiro do IAC e do Governo francês. Fez a sua carreira académica na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, no ISCEF da Universidade Técnica de Lisboa e no Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa onde foi contratado como professor catedrático. A purga política ordenada pelo Governo em Junho de 1947 isonerou-o compulsivamente desta posição. Forçado a abandonar o país, junta-se a outros companheiros expulsos, em 1953, na Universidade do Recife, a convite do seu Reitor, onde irá criar um Mestrado de Matemática e o Instituto de Física e Matemática na Universidade que o acolheu. Morre prematuramente aos 60 anos, em Lisboa, vítima de doença prolongada.

Mário Augusto da Silva (1901-1977)

Durante a licenciatura em Física, fundou a Sociedade Académica de Estudos dos Alunos da Faculdade de Ciências de Coimbra que desenvolvia simultaneamente o intercâmbio de ideias e a entreajuda estudantil. Em 1924 contratado como 1º assistente e recebe uma bolsa para estagiar no estrangeiro, optando por Paris, onde conhece Afonso Costa que lhe fornece uma carta de recomendação. Em França doutorou-se sob a orientação de Marie Curie e foi um dos assistentes do seu laboratório. Regressado a Portugal, onde foi negada a continuação do seu trabalho no estrangeiro, retomou as suas funções académicas. Obteve a equivalência do seu doutoramento, defendido na Sorbonne, podendo desta forma entrar no concurso de Professor Catedrático em 1931 do qual foi o único concorrente. O seu regresso a Coimbra pareceu-lhe menos desmotivante graças à intenção de criar um Instituto do Rádio. No entanto as dificuldades legais e financeiras criadas pelo regime faziam com que os esforços de Mário Silva e Álvaro de Matos, que surge como outro grande impulsionador do Instituto, fossem em vão. Como cidadão politicamente interventivo, integrou o Comité Nacional e a Comissão Executiva do MUNAF; foi vice-presidente da Comissão Distrital de Coimbra do MUD e integrou a Acção Democrática Social. Foi preso pela PIDE em Agosto de 1946, foram seus companheiros de prisão, entre outros, Ruy Luís Gomes, Cal Brandão, Azeredo Antas e Domingos Pereira. Seria libertado por falta de provas no entanto menos de um ano depois, na purga das Universidades em Junho de 1947, foi aposentado compulsivamente. Nesse mesmo ano ficou sujeito a 2 semanas de prisão domiciliária. Alvo de uma perseguição constante por parte do regime foi forçado a recorrer a explicações e à venda de espumante das Caves de Vice -rei de Anadia para puder sustentar a sua família. Em Dezembro de 1947 passa a trabalhar como conselheiro científico na Philips mantendo essa profissão até à sua reforma em 1966. Em 1971 é nomeado Presidente da Comissão do Planeamento do Museu Nacional da Ciência e de Técnica, sendo este Museu um sonho de Mário da Silva desde os anos 30. Depois de muitos contratempos e faltas de fundos, o Museu Nacional da Ciência e da Técnica foi finalmente inaugurado em 1976 do qual foi nomeado director. Após o 25 de Abril de 1974, e chegada a liberdade que tanto ansiava, foi reintegrado como Professor catedrático na Faculdade de Ciências na Universidade de Coimbra em Fevereiro de 1976.

Orlando Morbey Maria Rodrigues (1920-1988)

Licenciado em Ciências Económicas e Financeiras em 1942 começou de imediato a exerceu as funções de assistente de Matemáticas Superiores sob a orientação de Bento Jesus Caraça e de Mira Fernandes. Em inícios de 1947 passa a ser responsável pela regência do curso teórico. Desde o tempo de estudante esteve ligado às incitativas do Movimento Matemático (ver nota 13, Cap. I). Colaborou com o
Centro de Estudos de Matemática Aplicada à Economia; os centros de Estudos Matemáticos de Lisboa e do Porto; foi membro da Sociedade Portuguesa de Matemática e publicou artigos em várias revistas destacando-se o seu empenho na
Gazeta de Matemática. Em Abril de 1947, candidatou-se a provas de doutoramento no entanto o Conselho Escolar do ISCEF nunca formalizou qualquer decisão sobre a realização das provas que deveriam ter sido realizada precisamente quando foi demitido. Afastado das suas funções docentes pela purga das Universidades em Junho de 1947 e forçado a encontrar outros meios de subsistência obtêm um emprego na Philips Portuguesa e pouco tempo depois é nomeado adjunto do director comercial. As suas capacidades foram rapidamente reconhecidas e ocupou a partir de 1951 vários cargos ligados à administração da empresa, em Portugal e no estrangeiro. Durante o ano de 1974 aposta na dinamização do Projecto da Escola Primária “Sylvia Philips” que beneficiaria os filhos dos trabalhadores da empresa, na área de Carnaxide. Teve especial empenho neste projecto devido a sua visão pedagógica e de desenvolvimento industrial competitivo mas socialmente justo. Em 1977, como consequência de processo de reintegração, tomou posse do cargo de professor auxiliar no Instituto Superior de Economia passando algum tempo depois a professor catedrático. O seu mérito como economista e como pedagogo é amplamente reconhecido pelos seus pares.

Ruy Luís Gomes (1905-1984)

Um dos maiores vultos das ciências exactas em Portugal, matemático e físico-matemático de craveira internacional, grande dinamizador e renovador dos estudos científicos nestas áreas de que foi pioneiro juntamente com Aniceto Monteiro e Bento de Jesus Caraça, figuras centrais do Movimento Matemático (ver nota 13, cap. I) entre meados dos anos 30 e 1947. Licenciou-se em Matemática, em 1928, na Universidade de Coimbra sendo contratado como assistente pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto no ano seguinte, leccionando a cadeira de Físico-Matemática a partir de 1931, aproximando-se então da resistência estudantil à Ditadura Militar. Torna-se catedrático aos 28 anos e, em breve, director do Gabinete de Astronomia da FCUP, mandando instalar um observatório astronómico escolar no Monte da Virgem. Em 1940 juntamente com a nova geração de matemáticos, funda a Sociedade Portuguesa de Matemática, o Centro de Estudos Matemáticos do Porto, anexo à FCUP, e em 1943 a Junta de Investigação Matemática. Figura destacada da resistência ao regime foi eleito da Comissão Distrital do Porto do Movimento de Unidade Democrática (MUD) em 1945. Em 1947 foi alvo de um processo disciplinar por subscrever um protesto contra a prisão pela PIDE da estudante da FCUP Nazaré Patacão e demitido das suas funções docentes. Apoiante da candidatura do general Norton de Matos à presidência da República, em 1949, é um dos fundadores e presidente do Movimento Nacional Democrático (MND), duramente perseguido pela PIDE durante os curtos anos da sua existência na primeira metade dos anos 50. Em 1951, após a morte de Carmona, apresenta-se como candidato às eleições para Presidente da República, mas é declarado inelegível pelo Conselho de Estado. Entre 1945 e 1957, Ruy Luís Gomes é preso mais de 10 vezes pela polícia política, agredido, julgado e condenado em Tribunal Plenário, expulso da Universidade e, em 1958, forçado a exilar-se na Argentina onde, a convite do seu amigo António Aniceto Monteiro, vai leccionar no Instituto de Matemática da Universidade Nacional del Sur na Bahia Blanca, onde desenvolve uma brilhante actividade científica. Em 1962, muda-se para o Brasil, para a Universidade Federal de Pernambuco, onde já leccionavam os seus companheiros de sempre Zaluar Nunes e José Morgado. Desenvolve intensa actividade científica e docente com duradoura repercussão no Brasil. No seu exílio Sul-Americano Ruy Luís Gomes permaneceu activo na luta contra o regime e contra a guerra colonial. Em 1972 e 1973 tentou vir a Portugal para visitar o seu companheiro Lobão Vital, gravemente doente, e para presidir ao Congresso da Oposição Democrática de Aveiro. Nas duas ocasiões foi proibido de entrar. Após o 25 de Abril de 1974 é recebido apoteoticamente pela população do Porto quando a 4 de Maio regressa do exílio. É reintegrado na Universidade do Porto e nomeado seu Reitor, retomando as suas funções docentes na Faculdade de Ciências. Jubilado em 1975, é nomeado Reitor honorário da Universidade do Porto. Aceita o cargo de Membro do Conselho de Estado e é designado Presidente da Comissão Instaladora do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar em 1975. Foi um dos fundadores da Universidade Popular do Porto em 1979. Galardoado com a Ordem da Liberdade em 1981. Faleceu aos 78 anos vítima de enfarte do miocárdio, a 27 de Outubro de 1984.

1962

Vitorino Magalhães Godinho (1918-2011)

Pioneiro das Ciências Sociais em Portugal, foi um dos mais importantes vultos da historiografia portuguesa do século XX para cuja modernização contribuiu decisivamente. Produziu uma vasta obra de referência influenciada pela Escola dos Analles, francesa, e que abrange, entre vários outros temas e épocas, a História dos Descobrimentos cuja abordagem, contra corrente do discurso oficioso nacional-passadista, ele renovaria substancialmente. Licenciou-se em Ciências Histórico- Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em 1940, onde ocuparia o lugar de professor extraordinário até 1944, ano em que rescindiu o seu contrato fixando-se em Paris. Foi investigador do Centre National de Recherche Scientifique entre 1947 e 1960 e obteve o grau de Doutor és-lettre pela Sorbonne no ano de 1959. Regressado ao país, foi nomeado professor catedrático do Instituto Superior de Estudos Ultramarinos (1960) mas foi afastado pelo regime na sequência da crise académica de 1962. Regressa a França, à École Pratique de Hautes Études onde defende, em 1966, a sua tese de Doutoramento de Estado sobre a economia do império português nos séculos XV e XVI. Em 25 de Abril de 1974 leccionava na Faculté des Lettres et Sciences Humaines da Universidade de Clermont-Ferrand, que lhe havia concedido doutoramento Honoris Causa. Regressou definitivamente a Portugal, onde foi nomeado Ministro da Educação e Cultura do II Governo Provisório ainda em 1974. Será um dos fundadores da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, na qualidade de professor catedrático, procurando levar à prática o projecto que sempre defendera de interdisciplinaridade entre a História, a Sociologia, a Economia, Antropologia e a Filosofia. Em 1984 desempenhou o cargo de Director da Biblioteca Nacional. Proferiu inúmeras palestras e conferências e palestras em diversos países, publicou várias dezenas de artigos e livros; recebeu prémios de várias academias, dirigiu várias colecções nas Edições Cosmos; fundou a Revista de História Económica, colaborou em diversos jornais e manteve sempre a sede de conhecimento e um espírito crítico de notável lucidez visível num dos seus últimos livros: Os problemas de Portugal, os problemas da Europa editado em 2010.

1969

Joaquim Ferreira Gomes (1928- 2002)


Após completar o Curso Teológico no Seminário de Coimbra, em 1951, seguiu para Roma, tendo-se licenciado ,em 1953, em Filosofia na Universidade Gregoriana. Quando regressou a Portugal, ingressou na Universidade de Coimbra, tendo-se licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras
. Apresentou a sua tese de Doutoramento em 1965, em Filosofia. Defendia ideias demasiado progressistas o que lhe causou dissabores. A sua visão da espiritualidade baseava-se uma “desclericalização” do sacerdócio, em que os sacerdotes se envolveriam mais nas questões sociais não como pastores mas como membros de um todo, e afirmava, inclusivamente, que o celibato, ainda que detentor de grande virtude, não deveria ser obrigatório. A publicação do opúsculo de intervenção O Padre num mundo em transformação, em ligação com o pedido de realização de provas de concurso para professor agregado da Faculdade de Letras de Coimbra, que legalmente deveria ser precedida por averiguações policias, deu origem ,através do despacho de 3 de Julho de 1969 da Secretaria-Geral da Presidência do Conselho, ao seu afastamento do ensino. Mesmo antes da publicação da obra que desencadeou o processo, o seu nome já tinha sido referenciado pela PIDE. De facto as informações da policia política relacionavam-no com o protesto face à demissão do Padre José de Oliveira Branco, de assistente espiritual do Centro Académico de Democracia Cristã (C.A.D.C.), devido à publicação de um artigo. Essa defesa do padre demissionário foi encarada como esquerdista. Ferreira Gomes interpôs um recurso, obtendo o apoio de algumas personalidades católicas, ao qual o Conselho de Ministros deu provimento a 30 de Setembro de 1969. Reintegrado na Faculdade fez as suas Provas de Agregação em 1970, e o concurso para Professor Catedrático da Secção de Ciências Pedagógicas da FLUC em Março de 1974.Dedicado investigador e docente desenvolveu um papel essencial na criação dos Cursos Superiores de Psicologia, em 1977. O ocupou cargos cimeiros na direcção da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação e graças a sua acção científica e extensa produção bibliográfica é reconhecido pelos seus pares como um dos grandes impulsionadores das Ciências da Educação em Portugal.

1973

Francisco Pereira de Moura (1925-1998)

Licenciado em Finanças e Economia pelo ISCEF em 1950, iniciou então uma brilhante carreira como economista, pedagogo e cidadão politicamente interveniente. Doutorou-se com 19 valores em 1961 e foi nomeado catedrático em 1972. Ocupará todos os postos cimeiros da direcção da sua escola de sempre e desenvolverá, nacional e internacionalmente, uma vasta obra de teorização, debate e divulgação dos estudos económicos, ainda hoje de incontornável referência. Pedagogo brilhante, marcou várias gerações de estudantes que passaram pelas suas aulas. No início da sua carreira, nos anos 50, integra (com Jacinto Nunes e Teixeira Pinto) o núcleo duro de uma nova geração de economistas que introduz o estudo das modernas teorias económicas nas universidades portuguesas e das novas metodologias de análise que delas decorriam. Foi o secretário-geral do II Congresso da Indústria Portuguesa em 1957, onde teve um papel central, e nesse ano aceita ser Procuradora à Câmara Corporativa, sendo relator de relevantes pareceres sobre a adesão à EFTA (1960). Militante católico, nos anos 60 aproxima-se dos sectores católicos mais críticos do regime e da sua crescente intervenção na acção oposicionista, tomando corajosa posição ao lado dos estudantes nas suas lutas (designadamente na ocupação do ISCEF em 1969). Apoia as organizações de solidariedade com os presos políticos, integra a Comissão Democrática Eleitoral de Lisboa e, em 1972, participa na vigília da capela do Rato pela paz e contra à guerra colonial. Preso pela polícia de choque que invade a capela, será exonerado compulsivamente de funcionário público e professor em Janeiro de 1973. Figura de relevo no MDP/CDE, o 25 de Abril de 1974 projecta-o numa intensa actividade política entre Maio desse ano e Setembro de 1975. Será membro do I, IV e V Governos Provisórios. Reintegrado como catedrático e de regresso, em 1975, ao agora Instituto Superior de Economia (ISE), inicia uma nova etapa da sua carreira docente, estreitamente associada às importantes reformas pedagógicas, curriculares e de organização de investigação que conhece a escola. Em 1995 Jubila-se como professor catedrático recebendo a expressiva homenagem dos estudantes, dos seus pares e dos seus ex-alunos.