Nuno Teotónio Pereira: um exemplo permanente de cidadania activa

Imagens da homenagem, realizada em 5 de Fevereiro de 2011, aqui anunciada.

“… Uma imensa plateia de mais de trezentas pessoas, não só de católicos e ex-católicos activistas desde os anos 60, mas também de muitos outroscompagnons de route que, ao longo de mais de cinco décadas, se habituaram a ver na pessoa do Nuno o grande impulsionador de um sem número de actividades, políticas e cívicas, e que aderiram a uma iniciativa anunciada através da internet, sem envolvimento de organizações (juntaram-se depois e estiveram ontem presentes) e organizada por um pequeníssimo grupo de amigos.

Ao lançarmos a sessão, utilizámos a palavra «homenagem» na convocatória e o Nuno não gostou: telefonou-me três dias antes, desagradado por só então se ter apercebido de que seria o centro das atenções. Disse-lhe então o que ontem repeti: que estávamos ali para nos «homenagearmos» também, num reencontro para celebrarmos um passado de que nos orgulhamos e que, de uma maneira ou de outra, ele nos ajudou a construir. E que a nossa presença naquela sala era a prova daquilo que, certamente, ele mais gostaria de ouvir: que ainda não baixámos os braços.

O Nuno encerrou a sessão, com a limpidez e a frontalidade habituais, quase lendárias:

«Estou velho, estou a chegar aos 90 anos. Há órgãos que me estão a falhar. Um deles é a memória, que se está a desfazer como pó, o que me causa um certo sofrimento. Além da perda da visão. Mas estou muito contente, porque esta sessão, tendo sido anunciada como de homenagem à minha pessoa, e não deixando de o ser, fez também justiça a todos aqueles que conhecemos e lutaram naqueles anos difíceis.»

Joana Lopes [aqui]

Da notícia do Expresso online:

“O cidadão [Nuno Teotónio Pereira] não quis apenas evocar o passado.

“Apelo a todos para que, em conjunto ou individualmente, façam o que for necessário, mesmo com risco, para acabar com situações declamorosa desumanidade que existem no nosso país, muitas vezes mesmo ao nosso lado”.

“A modéstia dos que são verdadeiramente grandes”

Nuno Teotónio Pereira, Jorge Sampaio e João Cravinho

Nuno Teotónio Pereira, Jorge Sampaio, João Cravinho

O ex-Presidente da República Jorge Sampaio foi o principal orador. Dirigindo-se ao “cidadão”, destacou entre as suas muitas qualidades a “modéstia dos que são verdadeiramente grandes”. Falando de improviso mas a partir de notas que preparara, Sampaio sublinhou ainda “a independência do seu percurso”, a ponto de considerar que Nuno Teotónio Pereira “não é apropriável por ninguém“.

O ex-presidente da Câmara de Lisboa agradeceu ao arquiteto o quanto lhe ensinou sobre a capital. Da sua vasta obra, que inclui três prémios Valmor, Sampaio destacou a igreja de Almada, o bairro de Olivais Norte e o edifício “Franjinhas” na Rua Braancamp – além, claro está, da igreja que serviu de cenário à homenagem e a que se juntaram numerosos católicos, entre os quais os padres Bento Domingues eJardim Gonçalves.

No plano político, Sampaio não pôde deixar de evocar o dia 26 de Abrilde 1974, quando Nuno Teotónio Pereira foi um dos numerosos presos políticos que foram finalmente libertados da prisão de Caxias. “O Nuno permaneceu sempre a mesma pessoa através de décadas, nos mesmos valores, nos mesmos princípios”, afirmou Jorge Sampaio, chamando a atenção para a sua “constância e intemporalidade”.