Memória: Raimundo Narciso eleito hoje presidente da direcção de associação cívica NAM

2008-05-17 21:12:19
artigo na revista Visão

 

Lisboa, 17 Mai (Lusa) – A associação cívica “Não Apaguem a Memória” (NAM) elegeu hoje Raimundo Narciso e Lúcia Ezaguy para a presidência e vice-presidência, em lista única, com 178 votos a favor.

Em declarações à Agência Lusa, Raimundo Narciso disse que se registaram 10 votos em branco e 23 nulos na votação para a direcção da NAM, que tem como prioridade para os próximos anos um museu da resistência e liberdade na antiga cadeia do Aljube e um memorial às vítimas da PIDE em Lisboa.

Três anos após o início de um movimento que se insurgiu contra a transformação da antiga sede da PIDE/DGS, em Lisboa, em condomínio fechado, o NAM formalizou-se em associação cívica.

Depois de em 2006 ter sido noticiada a possibilidade de a câmara dar parecer positivo à musealização de duas salas da antiga sede da PIDE em Lisboa cedidas pelo promotor imobiliário, o projecto esbarrou em problemas técnicos que impediram a sua aprovação.

A sala não cumpria os requisitos técnicos e legais de acesso do público e de segurança exigidos para qualquer equipamento público, disse à Lusa o vereador da autarquia lisboeta Ruben de Carvalho.

Em declarações à Lusa, antes das eleições, Raimundo Narciso disse ter “ainda a expectativa de que fique alguma coisa mais restrita e simbólica” no edifício da António Maria Cardoso, transformado em condomínio.

Perante o falhanço do projecto inicial, a associação está agora empenhada em que a câmara estude e aprove um memorial aos presos políticos e às vítimas da PIDE que, por ficar na rua, “teria mais impacto”.

Ruben de Carvalho disse que o projecto está em estudo e poderá ser aprovado em breve, devendo ser anunciado “o mais tardar até ao fim de Junho” em conjunto com outras iniciativas com o fim de preservar a memória da resistência à ditadura.

O NAM formalizou-se em associação cívica com o único objectivo de salvaguardar e divulgar a memória da luta contra a ditadura e da liberdade conquistada em 25 de Abril de 1974.

NS/SF.
Lusa/Fim

Ex-presos políticos reencontram as suas memórias na sede da PIDE, no Porto

Ex-presos políticos reencontram as suas memórias na sede da PIDE, no Porto
27.04.2008, Mariana Oliveira

 

Sentado numa cadeira e com uma voz pausada, Estaline de Jesus Rodrigues, 75 anos, conta aquelas histórias que o Presidente da República teima que não devem ficar esquecidas. O movimento Não Apaguem a Memória tenta reescrevê-las a cores. Estaline de Jesus Rodrigues pincelou ontem a história, no antigo edifício da PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado) no Porto. 

Antes do começar o relato, o ex-preso político tenta matar uma curiosidade com quase quatro décadas. “Eu estava preso na cave e um dia consegui ver pelas frestas da porta dois pides a trazer um indivíduo e a atirá-lo com força para a cama. Vinha em muito mau estado, por acaso essa pessoa não está aqui?” Silêncio. Ninguém se acusa. A curiosidade não morre no primeiro regresso de Estaline Rodrigues à sede da PIDE no Porto, onde esteve detido entre Maio e Junho de 1970. 

Era do Partido Comunista Português e esteve ligado à organização de uma grande manifestação no Barreiro e na Moita em 1970. Na sequência do protesto foi detido e enviado para o Porto. Tinha estado preso duas vezes antes e passou por outras cadeias depois. Mas o mês que esteve no Porto merece o apelido de “passagem mais terrível” pelas prisões nacionais. 

Não esconde a dor das memórias e reconhece, por isso, que durante muitos anos ela, a memória, esteve meia perdida, sem querer ser encontrada. Os documentos que foi buscar à Torre do Tombo ficaram à espera da vontade para os ler. “Durante muito tempo não fui capaz”, admite. Realçando que o 25 de Abril já tem 34 anos, diz que só muito recentemente reencontrou a sua história. “Descobri que quando estive aqui fui levado para a tortura dia 4 de Maio e só voltei a 22, em braços. Um amigo meu contou-me há pouco tempo que quando me viu não me reconheceu. Eu deitava pus pelos olhos e pelos ouvidos”, conta. A afirmação arrepia as cerca de cem pessoas presentes. Mas Estaline não desarma. É para que todos não se esqueçam que Salazar existiu, que a PIDE existiu, que a tortura existiu. 

Álvaro Monteiro, 65 anos, veio com o colega. Mas do Porto tem uma imagem mais branda. “Foi aqui que tive conhecimento do nascimento da minha filha”, conta com emoção. Mas não esquece a imundície: “Eram percevejos, baratas e piolhos. As necessidades eram feitas num balde.” 

[Artigo do Jornal Público de 27 de Abril de 2008]

2. Nota informativa da Comissão Instaladora da Associação Movimento Cívico NAM

A) ESCLARECIMENTO

Tendo a Comissão Instaladora tomado conhecimento de dúvidas surgidas quanto aos termos da consulta aos aderentes do Movimento Não Apaguem a Memória!  para transitarem  para a recém-criada Associação Movimento Cívico Não Apaguem a Memória! , vem a Comissão esclarecer o seguinte:
1. O processo da consulta, para cujo cumprimento a Comissão Instaladora se encontra mandatada, atende a uma deliberação aprovada, de boa fé, na Assembleia Geral Constitutiva, não tendo a Comissão competência para alterar o mandato que lhe foi conferido.
2. A Comissão considera, aliás, que a decisão aprovada na AG Constitutiva respeita a ordem jurídica portuguesa e não está ferida de ilegalidade.

B) CALENDARIZAÇÃO DAS PRÓXIMAS ACTIVIDADES DO PROCESSO DE INSTALAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO

18 de Abril: Constituição dos Cadernos Eleitorais, após exclusão dos aderentes do NAM que manifestaram, até 14 de Abril, o desejo de não aderirem à Associação. Início do período de apresentação de listas candidatas às eleições dos corpos sociais da Associação, de acordo com normas em anexo.
23 de Abril: Data limite da recepção, pela Comissão Instaladora, das listas candidatas aos corpos sociais.
28 de Abril: Divulgação, pela C.I., das listas aceites. Início do prazo de 48 horas para eventuais reclamações.
30 de Abril: Apreciação dos eventuais recursos pela C.I.
5 de Maio: Envio dos programas eleitorais das listas candidatas, das instruções e dos votos por correspondência.
15 de Maio: Data limite para a publicitação dos programas eleitorais, pela mailinglist “nameleicoes”, no blogue e no site do NAM.
16 de Maio: Data limite da entrada dos votos por correspondência na nossa caixa postal.
17 de Maio: Assembleia Eleitoral.

C) NORMAS DO PROCESSO ELEITORAL

1.A apresentação de listas obedecerá às seguintes normas
1.1. Serem subscritas por um mínimo de 30 associados (Artº 12º.2 do Regulamento Geral), sem contar, obviamente, com os candidatos;
1.2. Os subscritores das listas devem assinar a proposta de candidatura e indicar os números dos seus bilhetes de identidade;
1.2. Nenhum associado pode participar em mais de um lugar a eleger (Artº 12º.3 do R.G.);
1.3. As candidaturas deverão ser acompanhadas dos respectivos termos de aceitação, assinados por todos os candidatos, com fotocópias dos B.I. anexadas;
1.4. As listas candidatas devem ser entregues, ao cuidado de Victor Santos, na sede do SPGL (Sindicato dos Professores da Grande Lisboa), na Rua Fialho de Almeida, nº 3 1070-128 LISBOA

2. O voto pode ser efectuado:

2.1. Presencialmente,
A urna estará instalada, entre as 10.00 e as 18.00H, do dia 17 de Maio, na Biblioteca Museu República e Resistência
Rua Alberto de Sousa, n.º 10A
1600-002 Lisboa
Metro: Cidade Universitária; Autocarro: 31, 22, 54, 63, 68 (todos os que servem o Hospital de Santa Maria, nomeadamente os Transportes Sul do Tejo).

No voto presencial, o eleitor deverá exibir o seu bilhete de identidade ou documento que inequivocamente o identifique.

2.2. Por correspondência
Endereçada para:
Apartado 3500
1070-995 Lisboa
Para votar por correspondência:
a) – Utilize o boletim de voto, que será enviado por carta ou por mail, e assinale com um X a Lista em que vota (ou não assinale nada no caso de pretender votar em Branco) e coloque-o num envelope fechado sem qualquer identificação.
b) – Faça uma fotocópia do seu BI.
c) – Coloque a) e b) num segundo envelope, e envie este, pelo correio, para o Apartado acima indicado, de modo a ser recebido até ao dia 16 de Maio.

A Comissão Instaladora
Lisboa, 16 de Abril de 2008

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