Desfile à António Maria Cardoso

Aqui a liberdade venceu a tortura

Milhares de pessoas responderam afirmativamente ao convite do Movimento para prolongar o desfile do 25 de Abril até à Rua António Maria Cardoso, onde clamaram o seu desejo de a antiga sede da PIDE/DGS ser recordada como lugar por excelência da resistência à ditadura fascista do Estado Novo.

Desfile à António Maria Cardoso (2007)

Numa silêncio, que deve sublinhar-se depois de um desfile colorido como foi o do 25 de Abril, ouviram com extrema atenção em os testemunhos de Fernando Vicente e Garcia Pereira sobre o significado da manifestação: assegurar realmente que no condomínio que ali se constrói se reserve um espaço museológico que recorde para a história o que foi a luta pela conquista da democracia.

Fernando Vicente, um dos presos políticos que mais sofreu a tortura do sono nos longos interrogatórios que ali se fizeram, foi directo e conciso na explicação que deu sobre o que era a polícia política do regime ditatorial.

Desfile à António Maria Cardoso (2007)

Ali interrogava-se até à morte para arrancar aos detidos a confissão que interessa ao ditador para se perpetuar no poder. Ali se concentrava um sistema de devassa da vida privada de todos os cidadãos, que era alimentado por uma rede de bufos sem rosto, pela violação sistemática da correspondência, por um sistema de escutas arbitrário e sem controlo, por buscas domiciliárias selvagens, por cargas policiais brutais. Ali a única lei que comandava era a que a PIDE decretava.

Garcia Pereira deu o seu testemunho do dia 25 de Abril de 1974, quando ao fim da tarde um grupo de cidadãos se dirigiu à sede da sinistra polícia reclamando a sua extinção e por esta foi recebida a tiro. Recordou a rajada que ceifou de imediato quatro manifestantes e deu parte da sua convicção de que alguns dos feridos devem ter soçobrado, mas cujo falecimento deve ter ficado ignorado nos registos hospitalares. Recordou que quando chegaram as ambulâncias, das janelas da morte saíram duas granadas de fumos, para impedir o socorro às vítimas. Recordou que os únicos mortos que naquele dia da libertação ocorreram foram os praticados pelo polícia política fascista – nomeando o inspector da PIDE/DGS que comandou as acções homicidas, Óscar Cardoso.

Fernando Vicente em palavras sucintas explicou a motivação daquela concentração.

Desfile à António Maria Cardoso (2007)

Há dois anos, no 5 de Outubro de 2005, um grupo de cidadãos reuniu-se junto da antiga sede da PIDE-DGS em Lisboa, para expressar o seu protesto pelo apagamento de qualquer referência à memória histórica daquele local. Desse acto nasceu o Movimento Cívico Não Apaguem a Memória! e surgiu igualmente a possibilidade de corrigir o erro: inserir numa parte do condomínio um espaço que testemunhe o papel da resistência democrática à ditadura. Deu conta dos contactos estabelecidos com a Câmara Municipal de Lisboa (CML) e o promotor imobiliário, e como foi possível estabelecer um protocolo tripartido no sentido de concretizar esse espaço de memória e lhe conferir a dignidade indispensável.

Chegado a esse ponto, o processo entrou num impasse devido à incapacidade da CML e o promotor chegarem a um entendimento suficientemente claro quanto à definição jurídico-administrativa a conferir ao futuro espaço museológico. As conversações arrastam-se desde Maio de 2006, daí a necessidade de repor o assunto na praça pública. Daí a justificação daquela concentração.

O Movimento, reforçado com a adesão popular que a sua iniciativa alcançou, vai insistir com os seus interlocutores para que assumam os seus compromissos e dêem os passos necessários para que o projecto museológico se torne numa realidade a muito curto prazo.

Por isso, e para lá destes contactos, o Movimento vai avançar para estudos concretos quanto ao desenho a conferir ao espaço – já referenciado – onde há-de construir-se a memória da liberdade que naquele lugar venceu a tortura.

O primeiro passo nesse sentido vai dar-se no próximo 16 de Maio, com a realização de um colóquio na sede da Ordem dos Arquitectos (Edifício dos Banhos de São Paulo – Travessa do Carvalho, 23, em Lisboa), onde o grupo técnico, que o Movimento já mobilizou para esse trabalho, porá em discussão pública as ideias que já concebeu para um espaço que se quer que seja um hino à liberdade e à democracia.

No final, num gesto espontâneo de respeito e amor, os cravos foram colocados junto ao edifício.

[ fotografias aqui ]

A Manifestação do 25 de Abril

A Manifestação do 25 de Abril contou com milhares de pessoas que quiseram, mais uma vez, manifestar a alegria da libertação, a celebração da Democracia e a afirmação da Liberdade

Desfile do 25 de Abril (2007)

O Movimento Não Apaguem a Memória! esteve presente ao lado dos milhares de cidadãos e cidadãs que inundaram a Av. da Liberdade, em Lisboa.

Sindicatos, Partidos, Movimentos Cívicos, reivindicações das chamadas “minorias”, Imigrantes e cidadãos anónimos juntaram-se para comemorar a data em que Portugal passou a ser uma nação, mais uma vez, orgulhosa de si e da sua história.

Num dia bonito, em que a luz única desta cidade brilhou, o 25 de Abril de 1974 foi recordado e defendido pelo povo da cidade de Lisboa.

25 de Abril Sempre, Fascismo Nunca Mais! foi a palavra de ordem mais gritada.

Vale a pena guardar estas imagens.

[ fotografias aqui ]

“Não esteve no 25 de Abril? Nem sabe o que perdeu”

Primeiro de Janeiro de 23 de Abril de 2007
Encontro dos que foram perseguidos pelo Estado Novo

“Não esteve no 25 de Abril? Nem sabe o que perdeu”

Opositores do fascismo salazarista. Ícones da liberdade. Abusaram da liberdade que havia no período que antecedeu o 25 de Abril. Estiveram em cativeiro, apanharam sovas da PIDE, e as marcas que carregam não transpiram um pingo de arrependimento. Pensaram-se loucos quando a liberdade lhes entrou pela rede da cela, nas instalações da ex-PIDE, no presente Museu Militar do Porto. Por favor, “não apaguem a memória”.
Joana Soares/José Freitas (foto)

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Vimos, ouvimos e lemos – não podemos ignorar!

fotografia de Salgueiro Maia, 25 de Abril de 1974Há dois anos, no 5 de Outubro de 2005, um grupo de cidadãos reuniu-se junto da antiga sede da PIDE-DGS em Lisboa para expressar o seu protesto pelo apagamento de qualquer referência à memória histórica daquele local. Desse acto nasceu o Movimento Não Apaguem a Memória!. Desse protesto surgiu igualmente a possibilidade de corrigir o erro: inserir no vasto condomínio em que se está a transformar a antiga sede da polícia política um espaço que testemunhe a coragem da resistência democrática à ditadura e ao fascismo vulgar.

Das conversas havidas até à data com as diversas partes implicadas (o nosso Movimento, a Câmara Municipal de Lisboa e o promotor da obra) estabeleceu-se algum consenso tendo em vista a criação de um espaço dessa Memória no edifício:

O Não Apaguem a Memória! criou um grupo técnico para estudar a melhor solução para a concretização desse espaço;

a Câmara Municipal de Lisboa designou um vereador para dialogar sobre a matéria;

o Promotor imobiliário dispôs-se a aceitar trabalhar com esta equipa técnica e designou duas arquitectas para acompanhar os estudos.

No entanto, o que parecia dever resolver-se num prazo de tempo que não iria além de meses, arrasta-se desde Maio de 2006, numa situação em que o estado de ingorvenabilidade camarária influencia o andamento da construção do Núcleo Museolgico da António Maria Cardoso, resultando num arrastamento absurdo e inaceitável.

Por isso decidimos repor o assunto na praça pública.

Nada melhor para isso do que o desfile do 25 de Abril, que celebra a data em que a PIDE-DGS foi derrotada. Em sangue e raiva, acentue-se, recordando aqui os cidadãos anónimos que nesse dia ali caíram, vítimas da derradeira barbárie dos torcionários do sinistro regime do “Estado Novo”.

Do Rossio, onde termina o desfile do 25 de Abril, partiremos para a Rua António Maria Cardoso. Ali reforçaremos o protesto do 5 de Outubro de 2005.

É preciso que a CML e o promotor se entendam de uma vez por todas sobre a definição jurídico-administrativa ao espaço de memória a instalar no espaço da antiga prisão fascista.

É preciso que o memorial em homenagem às vítimas da PIDE-DGS se torne realidade.

Como Vladimir Jankélévitch, também dizemos: “Os deportados, os massacrados, só nos têm a nós para pensar neles. Os mortos dependem inteiramente da nossa fidelidade” (L’imprescriptible, Ed.du Seuil).

A Concentração do Movimento para a Manifestação é às 14,30 horas na Av. Duque Loulé.

A Concentração para o desfile para a António Maria Cardoso é junto ao Café Nicola, após a Manifestação.

O Grupo de Ligação

Visita guiada por ex-presos políticos às instalações da extinta polícia política do “Estado Novo” [PORTO]

O Núcleo do Porto do movimento cívico “Não apaguem a memória!” vai realizar a 21 do corrente mês de Abril, entre as 15 e as 17.30h, a segunda visita guiada por ex-presos políticos às instalações do actual Museu Militar do Porto, edifício onde funcionou uma delegação da polícia política do Estado salazarista, a PVDE/PIDE/DGS.

Com esta iniciativa, pretende-se afirmar a importância do edifício no roteiro dos locais de memória da resistência ao Estado Novo.

O núcleo do Porto deste movimento cívico plural e aberto tem efectuado diligências junto das autoridades administrativas locais e centrais visando a criação de um Museu da Resistência no edifício onde longamente esteve instalada delegação do Porto da PVDE/PIDE/DGS.

Espera-se que da convergência da acção cívica dos cidadãos e das cidadãs da área metropolitana do Porto, motivados pelo aprofundamento da educação histórica e pela defesa da preservação da memória das lutas anti-fascistas, resulte uma renovada dinâmica de participação e de cidadania.

Para qualquer informação adicional queiram anotar o telefone os endereços moc.liamgnull@otropairomemsiam e http://maismemoria.org.

Porto, 17 de Abril de 2007
O Movimento Cívico “Não Apaguem a Memória!”